Marcos Ferrari, da Conexis, alerta para os impactos da reforma no setor de telecomunicações e defende cashback para inclusão dos mais pobres

02/11/2024

Marcos Ferrari,
Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis – Foto: Andressa Anholete via Conexis Brasil Digital

Por Douglas Rodrigues

O setor de telecomunicações, representado por empresas como Algar, Claro, Oi, Sercomtel, TIM e Vivo, enfrenta desafios significativos com a carga tributária, que permanece uma das mais altas do mundo. Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, disse que, apesar da recente redução da alíquota de ICMS, o Brasil continua em terceiro lugar no ranking global de tributação sobre telecomunicações, com a reforma tributária ameaçando colocar o país novamente no topo dessa lista.

“A nossa carga tributária era a maior do mundo, com uma taxa de aproximadamente 42-43%. Hoje, com a lei complementar que limitou a alíquota de ICMS para 17-18%, caímos para 29,4%, mas ainda estamos muito acima da média mundial, que é de 11%”, explicou Ferrari.

Na reforma, o setor pagará a alíquota de referência (que deve ser de 28%). Mas eles têm que contribuir com fundos setoriais, como Fistel, Fust e Condecine –que elevarão a carga em mais 4 pontos percentuais. Ou seja, se a alíquota padrão for de 28%, o setor deve ter uma carga sobre o consumo de 32%.

Cashback para inclusão digital

Uma das principais frentes de atuação do setor de telecomunicações na reforma tributária é a defesa da implementação de um sistema de cashback para os consumidores de baixa renda. O objetivo é garantir que essas pessoas possam ter acesso a serviços digitais essenciais, como internet e telefonia, com menor impacto tributário.

Ferrari explicou que a inclusão do cashback nas telecomunicações foi sugerida de maneira semelhante à que já é aplicada em setores como água e energia elétrica. Ele mencionou que o impacto orçamentário dessa medida seria mínimo. “Contratamos uma consultoria que simulou o impacto do cashback com base nos mesmos métodos utilizados pelo IPEA e Fazenda. O resultado foi um impacto zero, com variação desprezível,” afirmou. Leia a íntegra.

O presidente da Conexis reforçou a importância da conectividade para a inclusão social e o desenvolvimento do país: “Quanto mais pessoas conectadas, melhor para o Brasil. Aumenta a produtividade, o crescimento econômico e o acesso ao conhecimento.”

Ferrari também destacou que a proposta foi encaminhada ao Senado, onde o setor espera conseguir mais apoio para a inclusão do cashback. “Estamos trabalhando para garantir a adoção do cashback no Senado, pois acreditamos que isso trará um ganho social significativo, especialmente para as famílias de baixa renda,” completou.

Preocupações do setor

Mesmo com as negociações no Congresso, o setor ainda não conseguiu emplacar alíquotas reduzidas para telecomunicações. Segundo Ferrari, a dependência de estados e municípios pela arrecadação de setores como energia, telecomunicações e combustíveis dificulta a obtenção de condições mais favoráveis.

Por outro lado, o segmento ficou fora do Imposto Seletivo, trazendo um certo alívio aos operadores do mercado.

O segmento, ao mesmo tempo, já está se preparando para a implementação do novo sistema, que durará até 2033. Até lá, são previstos muitos ajustes. “Terá alterações ao longo do caminho”, disse o executivo: “Não sei quais, porque o futuro é imprevisível”.